Nynna Manfredo

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Faço coisas estúpidas às vezes. Crio cenas dignas de novela mexicana. Falo clichês. Invento drama. Mas esse é o preço de ser toda emoção.Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções.Duvidei de tudo; a dúvida, ao invés de me paralisar, me empurrou em direção a oceanos que eu não podia admitir que existiam.
Você lê e sofre. Você lê e ri.Você lê e engasga.Você lê e tem arrepios.Você lê e a sua vida vai se misturando no que está sendo lido
ジャナイナ·マンフレード

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Carpe diem: a expressão para melhorar sua vida

A expressão carpe diem, tão difundida no decorrer dos séculos, nunca foi tão importante para a vida quanto nos dias de hoje 



Aproveite os pequenos prazeres da vida!
Foto: Marcos Lima
Quebrar o caramelo queimado do crème brûlée, lançar pequenas pedras na correnteza do rio, espiar discretamente as obras de arte do vizinho pela janela. Essas cenas triviais passariam invisíveis ao frenesi cotidiano, mas estrelam os pequenos prazeres de uma jovem em Paris, no clássico contemporâneo O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Nas suas peripécias diárias para tornar a vida dos amigos mais alegre, Amélie nos faz um convite para aproveitar o dia.

Mas a ideia é bem mais antiga do que o roteiro do cineasta Jean-Pierre Jeunet. No século I a.C., o poeta latino clássico Quinto Horácio Flaco escreveu os célebres versos: "Melhor é aceitar! E venha o que vier! Quer Júpiter te dê ainda muitos invernos, quer seja o derradeiro este que ora desfaz nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno, vive com sensatez destilando o teu vinho e, como a vida é breve, encurta a longa esperança. De inveja o tempo voa enquanto nós falamos: trata, pois, de colher o dia, o dia de hoje, que nunca o de amanhã merece confiança". É nesse poema que ficaria cristalizado o termo carpe diem, ou "aproveite o dia", em bom português - uma espécie de expressão-filosofia que valoriza as trivialidades fascinantes de uma vida simples.
Fruir para não fluir
Marcelo Bulhões, professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp, considera que o carpe diem evoca questões atemporais e universais: "É a fruição da existência humana", diz. À revelia das pressões modernas, com o isolamento de uma sociedade consumista, workaholic e ensimesmada nas metrópoles cinzas, Bulhões acredita que ainda há espaço para uma abertura às gratificações do efêmero: uma caminhada sem destino, o pastel na feira, as cores únicas do céu no pôr do sol... Para ele, tais gratificações são "puro carpe diem".
Hoje, ontem e amanhã
Entretanto, como sempre, há um outro lado da moeda. O filósofo Mário Sérgio Cortella, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), critica o hedonismo exacerbado da sociedade contemporânea, inebriada pelo consumo e pelo culto à juventude, que pode nos levar a uma vida "leviana e descompromissada com a história". Para o filósofo, esse momento especial é um presente que nós nos damos o direito de gozar. "Felicidade é um instante de vibração vital. Não é um estado". Portanto, viver "intensamente" pode corresponder à construção desses pequenos momentos especiais, que fazem a vida valer a pena.
Em um mundo onde há restrições por todos os lados - o cotidiano maçante da jornada de trabalho, as azucrinantes pressões das contas a pagar -, por que apenas não nos permitimos mais? "Acontece que o amanhã existe, como sabe todo mundo que já acordou de ressaca", lembra o sociólogo Marcelo Coelho. Portanto, pensando no amanhã, deixamos de viver plenamente o hoje. Ou: até quando nos entregamos ao hoje, não o fazemos efetivamente, por covardia ou por simples abnegação.
Doses diárias
Discordâncias éticas e filosóficas à parte, a questão é que o carpe diem pode ser uma inspiração, um convite para as coisas que acontecem com a gente agora, se entregando ao prazer que elas proporcionam.
Para Marcelo Bulhões, conversar com um amigo, de preferência no fim da tarde, já é um motivo para sorrir, assim como perambular pelas ruas de São Paulo. Marcelo Coelho já se sente bem com a simples ideia de que, ao acordar, terá uma xícara de café e o jornal à espera. Assim, bons vivants de diversos estilos se deliciam com pequenos prazeres de toda sorte, quando os momentos absolutamente triviais se tornam especiais. A ideia de que hoje pode ser o último dia de nossas vidas tende a ser angustiante, mas também pode ser libertadora à medida que nos convida a degustar nossas pequenas doses diárias de felicidade.

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